IA e cortes mudam jornada para juniores
Contratações de iniciantes em tech despencaram mais de 50% desde a pandemia, segundo levantamento. Mais: TypeScript em Go 10x mais rápido, IA que gera UI pronta e tiny teams (contra vibe-coding).

O que antes era rito de passagem — começar a carreira dev júnior numa startup ou big tech — virou exceção. O State of Talent Report 2025, publicado pela SignalFire, revela que as contratações de recém-formados caíram mais de 50% desde antes da pandemia. Mesmo nas gigantes da tecnologia, onde sempre houve espaço para engenheiros em início de carreira, a participação dos juniores nos quadros de novos contratados não passa de 7%.
A automação não é a única culpada, mas tem papel central nessa virada. Ferramentas de IA hoje substituem muitas tarefas básicas, especialmente as mais repetitivas e estruturadas, antes delegadas a estagiários e analistas júnior. Isso não significa, porém, que a IA acabou com essas vagas. Com menos tempo (e orçamento) para treinar, empresas passaram a preencher funções júnior com profissionais experientes. O paradoxo se impõe: para ter experiência, é preciso ser contratado, mas para ser contratado, é preciso já ter experiência.
Nesse cenário, o relatório destaca que a chance dos juniores pode estar justamente em trabalhar com — e contra — a própria IA. Dominar ferramentas como GitHub Copilot virou o mínimo esperado. O diferencial real está em saber corrigir, adaptar e depurar código ruim gerado por IA, transformando respostas automáticas em software utilizável. Bootcamps, projetos autorais, freelas e contribuições open source se tornam as novas “universidades”.
O relatório também analisa tendências de retenção, geografia, novas funções e mudanças no perfil de quem as empresas querem contratar. Destaques:
Generalistas são os novos favoritos. Com ferramentas de IA assumindo tarefas especializadas, profissionais versáteis, ágeis e capazes de integrar rapidamente tecnologias ganham vantagem sobre especialistas tradicionais.
Novas carreiras criadas pela IA. Surgem oportunidades inéditas, como engenheiros de IA agente, especialistas em governança e ética da inteligência artificial e profissionais focados em segurança para sistemas autônomos.
Cybersecurity segue em alta. A demanda por especialistas em segurança impulsionada por ameaças sofisticadas geradas com IA reforça necessidade urgente por capacitação nessa área.
Trabalho remoto se estabiliza no modelo híbrido. Empresas desistem do retorno obrigatório ao escritório, apostando em modelos híbridos com encontros presenciais pontuais.
Trabalho fracionado cresce entre executivos. Modelos de trabalho parcial (CTOs e CMOs como consultores) ganham força, indicando novas formas de atuar e oportunidades para devs buscarem experiência prática com líderes.
Surgimento do "equity advisor". Com restrições financeiras, startups recorrem a especialistas experientes como consultores remunerados por participação, abrindo oportunidades para networking estratégico e crescimento acelerado.
Anthropic vence disputa por talentos em IA. Cultura flexível, autonomia real e liberdade intelectual fazem o laboratório liderar em retenção, atraindo profissionais cansados da burocracia das Big Techs.
São Francisco e Nova York seguem dominantes. Apesar dos altos custos e da flexibilidade do trabalho remoto, mais de 65% dos engenheiros de IA ainda estão concentrados nessas duas regiões.
Miami e San Diego roubam o brilho de Austin. Fatores como qualidade de vida, custos menores e incentivos fiscais consolidam novas cidades como alternativas aos antigos polos tecnológicos.
Fim da farra do dinheiro fácil. Startups com rodadas menores e equipes enxutas redefinem quais competências realmente importam na hora da contratação.
O State of Talent Report 2025, produzido pela SignalFire, analisou milhões de pontos de dados coletados pela Beacon AI, plataforma que acompanha mais de 650 milhões de profissionais e 80 milhões de organizações no mundo todo.
O estudo mapeia tendências recentes sobre contratações, retenção e movimentações geográficas de profissionais no mercado de tecnologia e IA, abordando empresas que vão das gigantes "Big Tech" até startups emergentes financiadas pelos principais fundos de Venture Capital, além de avaliar o cenário para recém-formados vindos das melhores universidades norte-americanas. Mais no relatório completo.
TypeScript nativo em Go com compilador 10x mais rápido
Microsoft liberou a prévia pública do novo compilador nativo do TypeScript, reescrito em Go e com foco em desempenho. Batizado de tsgo, o binário promete reduzir em até 10x o tempo de build em projetos. A extensão para VS Code também já está disponível, com suporte experimental a JSX e JS via JSDoc. Essa nova base, chamada Corsa, deve se tornar o TypeScript 7. Mais no anúncio oficial.
Stitch transforma prompts e imagens em UIs com código pronto
Google Labs lançou Stitch, ferramenta experimental que transforma descrições em texto ou imagens (como esboços e wireframes) em interfaces visuais com código front-end gerado automaticamente — algo até então um tanto difícil com IA. Baseado no Gemini 2.5 Pro, o Stitch também permite iterar rapidamente entre variações de design, colar o resultado direto no Figma e exportar o código. Vale testar em stitch.withgoogle.com (dica de um colega da BeTalent).
Três maneiras como frameworks JavaScript renderizam o DOM
Em vídeo, Ryan Carniato (criador do SolidJS) explica as três formas de renderizar interfaces em frameworks JS: 1) replace total com innerHTML, como no jQuery; 2) dirty checking com diff nos "buracos" do template, usado por Angular, Lit e Svelte; e 3) virtual DOM, como React e Vue. Ele destaca ainda o modelo fine-grained, adotado por Solid e Svelte 5, que evita diffs e atualiza só o necessário com alta performance. Mais no vídeo completo.
Vibe-coding que nada. Tiny Teams!
Já ouviu falar de Tiny Teams? São microtimes, de uma a poucas pessoas, que constroem produtos reais, lucrativos e sustentáveis com apoio de agentes de software (SWE Agents). Operam com baixo custo, alta margem e foco claro: mais unidades de milhões de usuários do que gente na equipe, a exemplo da Gamma. Segundo a Latent Space (uma das melhores newsletter sobre IA), são contraponto ao vibe coding, onde dev se perdem em projetos improvisados e sem direção. Mais na opinião dos autores.
Trabalho do conhecimento: o que vem depois da IA
Com IA absorvendo o conhecimento técnico, cresce a valorização de habilidades humanas difíceis de automatizar. Joe Hudson, que treina líderes de empresas como OpenAI e Apple, aponta três competências centrais mesmo em uma era pós-AGI: clareza emocional, discernimento e conexão. Saber decidir, se relacionar e lidar com emoções será mais valioso que dominar frameworks. O futuro do trabalho é mais humano do que se imagina. Mais na Every (boa revista sobre IA).
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