Especial de Ano Novo: Tendências em Software para 2025
A IA continuará sendo a estrela e roubando holofotes, mas há muitas oportunidades de aprendizado em no-code e low-code, linguagens, DevSecOps e outras áreas para o ano que começa.

Como prometido na edição passada, chegamos nesta última edição de 2024 com um apanhado de tendências que devem impactar o desenvolvimento de software e a tecnologia em 2025.
Há muitas apostas, e várias delas bastante redundantes. Tentamos condensar em alguns grandes tópicos os movimentos que enxergamos a partir do mercado. Interpretamos cada tópico sob o ponto de vista dos profissionais. Há oportunidades para quem quer aprender e sair da zona de conforto. Vamos às principais tendências.
IA
A Inteligência Artificial continuará como assunto central em tecnologia em 2025. O foco, no entanto, avança para escala. Agentes de IA — modelos ou sistemas de IA capazes de raciocinar, tomar decisões e executar ações em etapas — serão uma das maiores tendências do ano, segundo o Gartner (consultoria global), por exemplo.
A a16z (empresa de venture capital), em seu Big Ideas in 2025 — um dos mais otimistas e futuristas reports da área — vai mais além nas projeções:
IA no dispositivo: crescimento de modelos menores de IA rodando diretamente nos dispositivos — algo a ficar de olho, porque pode abrir oportunidades no desenvolvimento de software mobile e para microdispositivos vestíveis e usáveis, por exemplo.
Avanços em raciocínio: progresso em modelos de IA para matemática, física e programação — o que interessa aqui são modelos cada vez mais capazes de programar em escalas crescentes, o que deve alterar, gradativamente, a forma de desenvolver software, tornando desenvolvedores mais estratégicos, enquanto a IA faz o trabalho "chato". Agentes de IA também entram nesse conceito.
IA Gerativa universal e realtime: a IA Generativa, à la ChatGPT, como a conhecemos, estará cada vez mais presente em tudo, tornando-se "invisível" e parte do cotidiano. Conjuntamente, veremos a IA ser realtime. A a16z usa o exemplo de um baterista de IA: você toca algum instrumento e a IA acompanha, adaptando de forma inteligente as batidas. Em qualquer um desses cenários, saber usar APIs das IA Gen mais populares do mercado, como OpenAI, Anthropic, Google ou as open-source como Llama deixa de ser diferencial para se tornar requisito obrigatório a desenvolvedores.
Hipercentros de IA: corrida entre países para desenvolver infraestrutura de computação para IA — algo que, por outro lado, pode centralizar ainda mais a IA e tornar o desenvolvimento dependente de regras e custos e até questões geopolíticas.
Na área de pesquisa, o foco deve estar em superar limitações inerentes aos LLMs, como a alta dependência de dados para aprendizados, isto é, estudar formas da IA aprender com pouca ou nenhuma informação de treinamento disponível, em capacidade de memória (contexto) maior e dinâmica, na possibilidade de aprender por analogias e no uso eficiente de recursos computacionais.
No universo de desenvolvimento de software, assistentes e plataformas de IA para código, como o GitHub Copilot, devem avançar para além de sugestões e correções simples de código para gerenciamento de projetos, testes e automação. Organizações como OpenAI já vêm investindo em maior treinamento de IAs em código para que a máquina faça a maior parte do trabalho pesado em codificação.
No-code e low-code
Com as empresas cada vez mais pressionadas por inovação e eficiência, as tecnologias low-code e no-code — que já vinham crescendo na surdina em 2024 — devem continuar despontando em 2025, e a IA terá forte participação nisso. Segundo o Gartner (consultoria global), até 70% das novas aplicações empresariais serão desenvolvidas usando essas ferramentas até 2026.
A mudança deve provocar uma reconfiguração no perfil dos desenvolvedores: 80% serão profissionais de fora dos departamentos de TI, e 40% serão não técnicos. A transformação faz sentido em um cenário de escassez de programadores e busca por maior velocidade na criação de software — o Gartner estima que plataformas low-code podem reduzir pela metade o tempo de desenvolvimento.
Essa redução das barreiras técnicas permitirá que equipes de negócios participem mais ativamente no desenvolvimento de aplicações, liberando profissionais de TI para projetos mais estratégicos.
Para desenvolvedores, adquirir conhecimentos e habilidades em algumas plataformas no-code/low-code mais próximas de suas áreas pode abrir filões de atuação diferenciados, mais como um facilitador de negócios do que apenas como um programador da "tela preta". Em determinadas áreas, a capacidade de conectar negócio e tecnologia será muito mais valiosa do que só desenvolver tecnologia em si, e o no-code/low-code tem potencial nessa conexão.
Linguagens de programação
Acompanhando o que vimos em 2024, Python e JavaScript continuarão reinando cada vez mais absolutas como as linguagens mais adotadas no mundo. Python, por conta de ser a linguagem de script "para tudo" e a linguagem padrão para IA, Machine Learning e Ciência de Dados. JavaScript, por ser a linguagem nativa da web. Não será nenhuma surpresa se elas continuarem a crescer nos principais índices de linguagens, como TIOBE e afins.
Em outra frente, vale acompanhar — e se especializar, se você tiver condições — em linguagens de alta performance. Entram aqui principalmente Go e Rust. Golang é uma linguagem robusta e versátil com performance interessante para aplicações web e similares. Rust é a nova queridinha das aplicações compiladas e de baixo nível, crescendo e concorrendo diretamente com C e C++. A Forrester (empresa de pesquisa de mercado) aposta que Rust chegará ao top 10 (atualmente, é 14ª) do TIOBE em 2025, com C (4ª) e C++ (2ª) caindo de posições, por busca de maior segurança de memória em aplicações, algo que Rust proporciona frente às concorrentes mais antigas.
Para quem vem do desenvolvimento web, conhecer e, se possível, dominar uma dessas duas linguagens abre um mundo de novas compreensões, ideias e capacidades. Até porque, com tecnologias como WebAssembly, também poderá ser possível desenvolver sistemas complexos para a web independentemente da linguagem. Vale a pena ao menos se inteirar de como Go e Rust são, como é sua sintaxe e quais problemas ajudam a resolver com eficiência.
DevSecOps
O "Sec" de "Segurança" entrou no DevOps como conceito de garantir segurança de ponta a ponta no fluxo de desenvolvimento e entrega de software. As boas práticas na área nunca foram tão importantes, principalmente com a chegada da computação quântica e os desafios e benefícios que ela coloca.
A Deloitte fala em uma "Nova Matemática" com a era quântica, com a necessidade de atualizar práticas de criptografia, adoção de criptografia pós-quântica e foco em segurança de dados de longo prazo. A IA, combinada com Quantum Computing, soma mais cenários: deve ampliar ataques em escala e complexidade, desde phishing com gramática perfeita até malware adaptativo; por outro lado, também oferecerá ferramentas mais sofisticadas de defesa, como detecção automatizada de ameaças e análise preditiva.
Essa não deve ser uma tendência que afetará desenvolvedores, devops e pessoal de cibersegurança da noite para o dia e nem exigirá esforços individuais de cada um no sentido de criar soluções, até por sua extrema complexidade. O que deve ocorrer é a inclusão de mais ferramentas prontas nos próprios serviços de nuvens e plataformas de engenharia para consumo sob demanda referente a essas novas camadas de segurança.
Nas práticas de DevOps já consolidadas, a IA também deve marcar participação, seja auxiliando no monitoramento e análise, seja sugerindo melhorias em ações, seja tomando decisões — em linha com agentes de IA e capacidades de raciocínio — para executar ações de forma autônoma na gestão de pipelines de software.
A Forrester aposta que 50% das empresas abandonarão ferramentas individuais "best-of-breed" em favor de plataformas DevOps integradas em 2025, fala em tendência de consolidação através de fusões e aquisições entre fornecedores destas plataformas, vê uma migração de DevSecOps para dentro das plataformas de engenharia e entende que as práticas se estenderão desde o monitoramento de desempenho até ao gerenciamento de portfólio de software.
Platform Engineering e Cloud-native Development
Na linha com DevSecOps, Platform Engineering ("Engenharia de Plataforma") é uma tendência incluída no monitoramento do Gartner já em 2024. Trata-se do conceito de ter uma plataforma que padronize e facilite todo o trabalho de times de desenvolvedores.
Por exemplo, em vez de cada dev ter de configurar o Docker na sua máquina, obter credenciais específicas e lutar com configurações ao entrar em um novo projeto, uma plataforma faz todo esse trabalho e permite que o dev entre codando mais rapidamente em projetos específicos.
O foco é automatizar e padronizar processos de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, equilibrar autonomia dos desenvolvedores com conformidade e segurança de dados e soluções. Ferramentas do setor, como Port, Crossplane, Grafana Stack, entre outras, devem buscar cada vez mais esses objetivos em 2025, com — de novo — participação de IA na jogada.
Cloud-Native Development ("Desenvolvimento Nativo na Nuvem") vai ao encontro da mesma ideia. É a prática de transferir cada vez mais os recursos de desenvolvimento de ambientes locais para que tudo seja feito diretamente na nuvem. Isso tem ligação com as práticas de DevSecOps, com o que plataformas de engenharia de software buscam e com facilidades que a nuvem oferece.
O desafio, é claro, é saber otimizar e gerenciar bem isto, porque todos esses recursos implicam em custos crescentes e dependências de serviços de terceiros.
Eficiência energética em software
Consultorias como o Gartner e outras organizações também apontam a eficiência energética como uma das buscas em desenvolvimento em 2025. É o que tem sido chamado de "green software" (software verde). Com a IA e datacenters consumindo cada vez mais energia — a ponto da energia nuclear ter sido ressuscitada como fonte para suprir a demanda entre big techs —, há uma busca por tentar otimizar o gasto energético em todas as frentes possíveis, e o software não está de fora disso.
Práticas de programação que tragam processamento mais eficiente, com menos redundância e repetições, estarão no radar neste próximo ano. Não fica claro, obviamente, qual técnica ou método deve ser adotado pragmaticamente no dia a dia, mas é provável que esse também seja um movimento que venha na mesma onda das questões de DevSecOps, Plataformas e Nuvem, por meio de ferramentas e boas práticas amadurecidas por grandes players.
A questão se tornará crítica principalmente para fornecedores de empresas que têm de cumprir requisitos ambientais, devido a seu porte, políticas e áreas de atuação. Como elas precisam auditar e prestar contas de suas ações, endereçarão questões relacionadas a seus parceiros e fornecedores.
É uma tendência a ser acompanhada até por questões éticas e de compromisso com o futuro também, e uma área interessante para estudo e inovação. Soluções que otimizem gasto energético (economia) e, em contrapartida, evitem emissão de gases (meio ambiente), serão valorizadas principalmente por grandes empresas.
Amplitude como nova profundidade
Mais no campo das soft skills, a Deloitte traz um ponto que deve ganhar ainda mais força a partir de 2025 quanto às capacidades pessoais e profissionais. A consultoria o chama de "Amplitude como Nova Profundidade" (Breadth is the New Depth). Podemos entender isso como, em vez de focar em ser ultraespecialista, conseguir ser mais generalista e transitar por mais áreas diferentes — ou, o melhor dos mundos, ter um perfil "T shape", com especialização em uma área (codar, por exemplo) e conhecimentos e desenvoltura em várias áreas correlatas, de negócios a dados, de IA a gestão.
A Deloitte entende que as áreas estão ficando cada vez mais complexas e interdisciplinares e que a IA desencadeará uma revolução similar à da eletricidade, atacando áreas de especialização, como análise de dados, análise de qualidade, o próprio desenvolvimento, design, entre várias outras.
Prosperarão cada vez mais, portanto, humanos que conseguirem transitar nas conexões interdisciplinares, fazerem indústrias e tecnologias convergirem e conseguirem enxergar perspectivas amplas e integradas. Em pontos mais específicos:
Haverá necessidade de profissionais generalistas que podem conectar diferentes áreas;
Maior valorização de graus acadêmicos interdisciplinares;
Importância de quem conseguir construir pontes entre equipes especializadas;
Necessidade de visão para imaginar e executar novas intersecções;
Oportunidades em conexões não óbvias entre indústrias e tecnologias;
Priorização de inovação (capacidade de disruptar) sobre incrementalismo (apenas melhorar algo que existe).
A consultoria sugere que o futuro dependerá mais da capacidade de criar conexões significativas entre diferentes campos do que da expertise profunda em uma única área. Desenvolvimento de capacidade adaptativa, flexibilidade, relacionamento e até saber lidar com perdas (possibilidade de áreas inteiras deixarem de ser como são) entram na cota de aprendizados para esse novo cenário. Em outras palavras, entender que, como dizemos na BeTalent, "crescer dói", traz desconforto, e não há muita receita a não ser se lançar em situações reais de novidade e risco.
A edição ficou um pouco mais longa do que prevíamos, mas há um bom apanhado aí para nos guiar em 2025. Como com quaisquer previsões sobre o futuro, pode haver o que se confirme e o que fique só na previsão — a realidade é cada vez mais dinâmica e os rumos podem mudar a depender da economia, questões geopolíticas, das empresas do ecossistema tech, entre outros vários fatores. Está aí, porém, um um norte para nos planejarmos para o ano que inicia.
E para virarmos o ano com bom humor, assim como há tendências e mudanças, também há coisas que certamente permanecerão as mesas, como essas dez frases que continuarão sendo ouvidas (e ditas) por devs em 2025:
Na minha máquina funciona.
Pode dar uma olhada nisso aqui pra mim? Coisa simples!
Pode subir em produção na sexta-feira?
Pode entrar 5 minutos nessa call aqui comigo?
Está tudo ok, falta implementar os testes e rodar o deploy.
Isso daí só um if e um else já resolve.
Isso aí era assim quando eu entrei na empresa, quando tentamos arrumar parou de funcionar, é melhor deixar quieto.
Seu PR quebrou o build inteiro.
Seis meses estudando e tu já consegue trabalhar na gringa.
Tua mudança quebrou nossa infra na cloud.
Desejamos um Feliz Ano Novo, que 2025 seja repleto de resultados, oportunidades e aprendizados a todas e todos!