Anthropic publica tools para rastrear circuitos neurais em LLMs
Lib open-source permite visualizar "pensamento" de LLM em grafos. Mais: DigitalOcean permite deploy por linguagem natural, IA impacta vagas de recém-formados e as práticas da AWS contra bugs.

A Anthropic tornou público o circuit-tracer, biblioteca open-source que permite mapear como modelos de linguagem processam informações internamente. Imagine poder "abrir o capô" de um LLM e ver quais componentes se ativam quando ele responde uma pergunta. A ferramenta, hospedada no GitHub sob licença MIT, oferece essa visibilidade através de grafos visuais que mostram o fluxo de processamento, com interface web integrada ao Neuronpedia.
O problema que a ferramenta resolve é fundamental: modelos de linguagem são "caixas-pretas" que produzem respostas sem explicar seu raciocínio interno. Para pesquisadores e desenvolvedores interessados em compreender IA, isso significa impossibilidade de estudar como modelos tomam decisões, identificar quais mecanismos são responsáveis por comportamentos específicos, ou validar hipóteses sobre o funcionamento interno dos sistemas.
O circuit-tracer funciona através de três etapas principais:
identifica "circuitos computacionais" — sequências de operações que o modelo executa para chegar a uma resposta específica;
visualiza esses circuitos como grafos interativos onde cada nó representa um conceito ou operação; e
permite experimentos controlados para testar hipóteses sobre o funcionamento.
A biblioteca suporta, inicialmente, os modelos Gemma-2-2b e Llama-3.2-1b, com planos de expansão para outras arquiteturas.
Para usar a ferramenta, desenvolvedores podem acessar diretamente a interface do Neuronpedia, que funciona como um navegador web para circuitos neurais, ou executar o circuit-tracer localmente via linha de comando. O comando básico requer o texto a ser analisado, o conjunto de transcoders e um identificador. A ferramenta então gera grafos JSON que mostram, por exemplo, como o modelo processa a pergunta "Qual a capital do Texas?" — revelando quais conceitos (Texas, estados, capitais) se ativam e como se conectam até produzir "Austin".
Os grafos de atribuição resultantes contêm quatro tipos de elementos:
tokens de saída candidatos (possíveis respostas);
features ativas dos transcoders (conceitos reconhecidos);
embeddings dos tokens de entrada (palavras da pergunta); e
nós de erro representando computações não capturadas pelo transcoder.
As conexões entre esses elementos mostram efeitos diretos e lineares de como a informação flui desde a pergunta até a resposta final.
A metodologia por trás do circuit-tracer foi apresentada em março pela Anthropic em trabalho técnico detalhado. O desafio central era que neurônios individuais em modelos de linguagem sofrem de "polissemantia" — respondem a múltiplos conceitos não relacionados simultaneamente. Isso torna impossível entender o que cada parte do modelo realmente faz.
A solução usa "transcoders cross-layer" — componentes que substituem blocos MLP tradicionais por features mais específicas e interpretáveis. É como refatorar código legado: em vez de uma função gigante que faz várias coisas, você cria funções menores e especializadas. Esses transcoders capturam computações que se estendem por múltiplas camadas do modelo, colapsando operações repetitivas em features únicas.
O método também "congela" padrões de atenção e denominadores de normalização do modelo original, tornando as interações entre features lineares e previsíveis. Isso permite rastrear causa e efeito de forma direta. O modelo de substituição resultante reproduz o comportamento do modelo original em aproximadamente 50% dos casos testados, oferecendo transparência significativa sobre os mecanismos computacionais.
Os pesquisadores validaram as descobertas através de experimentos de intervenção: modificaram ativações de features específicas e observaram como isso afetava as respostas e outras features downstream. Estudos de caso incluíram completação de acrônimos fictícios, recall factual sobre figuras conhecidas como Michael Jordan, e operações aritméticas simples, revelando circuitos especializados para cada tipo de tarefa.
O trabalho complementar "On the Biology of a Large Language Model" aplicou essas técnicas ao Claude 3.5 Haiku em nove estudos comportamentais. As investigações revelaram mecanismos como raciocínio multi-etapas (Dallas → Texas → Austin), planejamento antecipado na escrita de poemas, circuitos multilíngues que misturam processamento específico por idioma com representações abstratas e sistemas de reconhecimento de entidades que determinam quando o modelo deve admitir ignorância versus quando pode alucinar.
Para quem pesquisa ou usa IA, essas ferramentas abrem possibilidades de investigar mecanismos de raciocínio, identificar circuitos responsáveis por comportamentos específicos e validar teorias sobre funcionamento interno de modelos de linguagem. A disponibilização responde ao que o CEO da Anthropic, Dario Amodei, destacou sobre a urgência da pesquisa em interpretabilidade — compreender mecanismos internos da IA torna-se necessário à medida que as capacidades dos modelos avançam rapidamente.
O projeto foi desenvolvido pelos Anthropic Fellows Michael Hanna e Mateusz Piotrowski, com mentoria de Emmanuel Ameisen e Jack Lindsey. A integração ao Neuronpedia foi implementada pela Decode Research. No YouTube, há uma entrevista com Ameisen sobre o projeto. Algo importante, "de fronteira", mas também divertido de conhecer e experimentar como funciona.
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